segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dia 6 - Porto Seguro é logo ali

Foi com esse pensamento que metemos o pé na estrada no dia seguinte, as distâcias não nos assustavam mais, eram "apenas" 200km, saindo de Caravelas em direção de Prado e dali até Itamaraju onde encontraríamos de novo a BR-101, no meio do caminho uma parada para conhecer onde tudo começou, ou quase, é passeio pra mais de um dia, e ficamos devendo para a próxima viagem.

Saindo de Alcobaça passando por Prado, uma obra em uma ponte nos obrigou a pegar uma pista paralela, provavelmente daqui a alguns meses estará tudo normal de novo.

A paisagem começa a mudar, menos eucaliptos e mais mata atlântica.

Em alguns lugares grandes extensões de pasto, também tem muito haras na região.

Subindo pra planície
Itamaraju ao longe com o morro com um formato inconfundível.

Vamos dar uma olhada?

No portão do parque, daqui pra frente só com guia e a pé, carro também pode desde que ele aguente o tranco.

Aqui os índios pataxós cuidam da entrada do parque e tem os guias que orientam os visitantes, vale uma visita com mais tempo, usando Itamaraju como base.

Essa foto vai virar camiseta com endereço do blog, aguardem.

Já estamos perto, passando de Eunápolis onde demos uma refilada no tanque de combustível viramos para o litoral, chegamos a pegar chuva na estrada, mas era assim, entrávamos num trecho onde caía chuva e noutro estava sol, as nuvens esparsas não conseguiam fechar o céu acima de nós.

Os primeiros sinais

O aerporto, a opção dos fracos.


Bem legal né?

Tomamos o caminho para Cabrália, passando longe do centro de Porto Seguro.

Essa região foi urbanizada, antes era um local abandonado, mas foram construídas calçadas e colocada iluminação em toda a extensão da via.

Porto Seguro é o segundo maior destino turístico do país, só perde para o Rio de Janeiro, a infra-estrtura de atendimento ao turista é ampla, tem pra todos os gostos e bolsos, e algumas armadilhas também, como não tínhamos escolhido o hotel onde ficar (nesse ponto da viagem já estávamos quase com o botão do foda-se apertado, a viagem era pra ter terminado em Caravelas, mas como estávamos com tempo e dinheiro, continuamos subindo a estrada), fomos procurando algo que nos agradasse e usando o Guia 4 Rodas como referência, apesar dele ser o editado em 2007, os atuais acho que estão mais incompletos ainda.

Muitos coqueiros, sabe aquelas praias que você vê em cartão postal e em propaganda de banco? Elas estão aqui.

O sol, o céu e a estrada, só faltava o hotel, a ducha e o almoço.

Precisa falar da cor do mar também?

Paramos em um mirante para ver melhor a região, uma vista deslumbrante, lá existem falésias à beira do mar que foram muito úteis nos primeiros anos de ocupação pois protegiam dos invasores e podiam avistar os navios à distância.



Eu e Herbie pra posteridade

Panorâmica

Achamos o hotel, na verdade, uma pousada, a Marlim Azul, a meio caminho de Cabrália, quarto muito bom e o preço melhor ainda, R$ 140,00 a diária, a pousada é nova, e só abre alguns meses do ano, bem localizada, longe do barulho e do tumulto, tem piscina e bar e a praia em frente convida a longas caminhadas.

Devidamente hospedados e banhados, saímos para explorar os sítios históricos da cidade, badalação da passarela do álcool só mais tarde.
Paramos primeiro no que é considerado o primeiro registro de ocupação no solo brasileiro, a igreja do Outeiro da Glória, ou o que sobrou dela.

Essas duas pedras unidas com argamassa são o único resquício que aqui existiu uma igreja, conta a lenda que ela foi destruída pelos índios depois que uma jovem que teria sido abandonada por um marinheiro português se afogou tentando ir atrás do barco que levava o seu amado.

Essa cruz marca o local onde teria ficado o altar-mor da igreja.

O centro histórico de Porto Seguro

Certamente pouca gente que já foi a Porto Seguro se deu ao trabalho de conhecer onde a cidade nasceu e cresceu, como visto antes, o outreiro da Glória foi o primeiro ponto de ocupação a partir de Santa Cruz Cabrália, onde foi celebrada a primeira missa, como o alto do morro era mais seguro, mas lá não era tanto assim uma vila mais ao sul foi construída, e ali a cidade cresceu.


No caminho um memorial do descobrimento, estava fechado, então seguimos adiante, deixamos para o dia seguinte a visita..

Isso é uma caixa dágua, construída nos anos 70, abasteceu por muitos anos a cidade, e ainda a abastece.

Trechos da carta de Caminha

O mapa da região, nosso roteiro dos próximos dias.

O local é bem sinalizado, apesar que já está na hora de dar uma arrumada nas placas. Quase não dá pra ler o que está escrito.

A visita é guiada, fomos levados por um guia, o Ruy, muito prestativo, deu informações muito interessantes sobre a história da antiga sede do município, sem ele não saberíamos que o lugar só ficou preservado porque no séc XIX decidiram levar a cidade para perto do porto, o que preservou o casario antigo.

Essa é a embaixada portuguesa, a casa anteriormente pertenceu a um médico muito importante, hoje abriga além do consulado, uma espécie de Torre do Tombo, onde estão guardados documentos que remontam à ocupação colonial.

As casas ainda são habitadas apesar de terem sido tombadas pelo Iphan, mas não há dinheiro para desapropriá-las, segundo o instituto, nada pode ser alterado exteriormente, mas muitas foram descaracterizadas por dentro, inclusive tem um caso de três delas terem sido transformadas em uma só apesar de manterem a fachada original.

Parece um cenário de época, tudo bem preservado

O museu de arte sacra estava fechado, tudo porque a cúria não tem como administrá-lo, parece que será colocado à disposição da Universidade Federal da Bahia, mas até agora não soubemos de nada.
O lugar realmente é uma cápsula do tempo.

O prédio à direita abriga um museu incrível, vale a pena visitá-lo

O preço é barato (seis reais) para a quantidade de informações que estão lá dentro, ali era a casa de câmara e cadeia, os presos desciam para a cela por um alçapão no segundo andar, lá em cima eram julgados e depois desciam por uma corda, algum tempo depois, séculos no caso, resolveram fazer porta lateral para facilitar a limpeza, já que os presos faziam suas necessidades lá dentro e só tinham vista para fora através de duas janelas fortemente gradeadas que davam vista para o mar.

Um farol, funcional, sinaliza a posição da cidade, seu formato é uma réplica da Torre de Belém, o lugar é cheio de simbolismos históricos.

Esse é o marco do descobrimento original, a história dele é bem interessante, no século XVIII ele foi encontrado abandonado em Cabrália, e foi levado para dentro do prédio da câmara e cadeia, que também servia de armazén de víveres, e ele ficava guardado na sala onde era estocado o sal e as mantas de carne, daí a história dele ter sido encontrado em um açougue, mas é verdade que afiavam facas nele, o carcereiro afiava seus facões na pedra, pelo menos agora ele está a salvo e preservado.

Esse busto é do capitão-donatário Pedro do Campo Tourinho, é fato que muitos donatários ao receberem as terras sequer se dignavam a ir até lá vê-las, no máximo designando alguém para "tomar conta", não raro abandonando-as.
Tourinho no Brasil foi perseguido por não guardar os dias santos, heresia condenada pela igreja católica, foi mandado a ferros de volta à Portugal de onde não mais voltou.
Mais sobre a história dele: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_do_Campo_Tourinho



Conhecer a história dá fominha, e saímos à caça daquela que é a mais baiana das iguarias: O Acarajé, deixamos herbie sob os coqueiros de Porto Seguro e fomos desbravar a passarela do alcool.

E o barquinho vai e a tardinha cai sob o céu púrpura da Bahia


Depois de muitas idas e vindas descobrimos o acarajé e também porque ficamos rodando igual dois doidos e não achávamos, é que ela ainda não tinha montado o tabuleiro, bastou acender o fogo debaixo do tacho pro cheiro do dendê se espalhar pela Praça do Relógio, e, evidentemente, encher de gente, comemos uns dois cada um, o engraçado é que agora na Bahia surgiu o tal do acarajé evangélico, em que a baiana não está vestida com roupas típicas e não vende bebida alcóolica, mas é tão bom quanto qualquer outro, aliás, o preceito está na receita, afinal acarajé é comida de santo, e não importa como você está vestido, existe uma liturgia para fazê-lo, não tirei foto da comida porque estava literalmente com as mão ocupadas, e lambuzadas de dendê, mas deu pra fotografar mais uma aporrinhola ambulante passando pelas ruas.

No próximo post mais de Porto Seguro e entraremos em uma Caravela legítima, aguardem.

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