terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

dia 07 - Arraial D´ajuda



Começamos bem o dia, tomamos o café e demos uma caminhada na praia pensando no que iríamos fazer, podíamos voltar dali, e a viagem já teria valido muito, ou esticar mais um pouco, os prazos ainda eram elásticos, estávamos fechando a primeira semana, tínhamos nos dado quinze dias antes de voltar ao trabalho, mas entre passar uma semana no inferno do Rio de Janeiro e ficar mais uns dias na estrada estávamos muito inclinados a ficar com a segunda opção.

A vista da janela do quarto, ô vida besta sô.

No caminho o local da primeira missa, representado nessas estátuas muito legais.

A caminho

Primeiro um rango, passamos a manhã na piscina do hotel, deu fome.

O Rei do Caranguejo, faz jus ao nome

Preciso falar da praia? Não né. Um escândalo pra variar.

E chegam os bichos

Hora da porrada

Voando caquinho de caranguejo pra todo lado, mas é muito bom, é a única comida que você pode brincar com ela.

Depois pedimos um peixe, nem lembro mais que nome que era, muito bom também, e eu resistindo a tomar uma cerveja, sequelado que estou das operações Lei Seca do Rio, lá na Bahia eles ignoram solenemente , a menos que você esteja tão bêbado que não lembre sequer seu nome, aí é bandeira demais e vai preso mesmo, tinha um cara sentado no restaurante que ficou tomando cerveja o tempo todo que estávamos lá, deve ter tomado umas três ou quatro, quando chegamos ele já estava enchendo a cara. Pagou saiu tranquilamente dirigindo, no dia que a Lei Seca chegar na Bahia vai ter guerra, podem apostar.

No dia anterior passamos pelo Memorial do Descobrimento, é uma iniciativa particular, mas muito interessante, os guias são meninos que recebem uma bolsa de estudos e durante a semana fazem o trabalho de monitores mostrando as atrações do lugar.

Uma delas, senão a principal, é essa réplica de caravela em tamanho natural, construída extamente como eram feitas as antigas naus.

Isso é o o primeiro piso do convés, essa escada na direita vai pro porão.



A réplica segue fielmente as proporções da época, então alguns lugares parecem apertados, mas é porque em média o europeu do séc XVI tinha uma estatura em torno de 1,50m, nós seríamos considerados gigante perto deles, com a média de 1,75m pra cima de altura.

Eu com meus 1,74m dando cabeçadas nas traves do convés superior ao lado de uma réplica de canhão feita em fibra, imagine o sujeito com essa bomba cheia de polvora, navio balançando morrendo de medo desse negócio estourar pra trás e mandar o navio pelo ares, acontecia e era mais comum do que se pensa.

As acomodações do capitão, originalmente nem tinha essas janelas pro marinheiros não ficarem espiando os navegadores com as cartas de marear, eram extremamente valiosas, os navegadores guardavam-nas ciosamente junto com os instrumentos e a bússola. Foi feita uma "licença poética" para os visitantes verem como eram simples, imaginem os marinheiros como ficavam.

Fiquei imaginado isso a todo pano no meio do mar, a parte de cima do convés estava fechado o acesso mas era dali que se comandava o leme e se tiravam as medidas de altura do sol.

O castelo de popa, devia ser um lugar agradável de se ficar. Já o resto da tripulação que se virase dormindo no convés ou no porão.

Esse é o porão, agora imagine isso com animais, mercadorias, barris de água e geralmente algum amontinado amarrado em uma dessas vigas, a vedação era feita com cordas embebidas em betume, e a função da tripulação na maior parte da viagem era ficar tapando buracos e colocando a água pra fora, quando havia tempestade então era pior ainda, as portas eram seladas com o mesmo sistema de cordas e betume e a maior parte da tripulação ficava trancada lá embaixo enquanto os marinheiros mais experientes (ou loucos) ficavam no convés manobrando o barco.

Era uma coisa tão precária que poderia ser comparada nos dias de hoje ao projeto Apollo, tamanha as dificuldades que os navegadores sofriam, e eles estavam a caminho do desconhecido, muitas vezes davam à terra se saber onde estavam, até porque suas cartas de marear muitas vezes não chegavam a ter informações precisas em latitudes mais baixas, a referência mais usada era o Cruzeiro do Sul, que por sua simbologia quase mística salvou muitos navegadores de se perderem do rumo certo.

Muito bonita, chega a ser supreendente que eles tenham enfrentado os mares nisso.

E essa era a nau capitânea, que ia armada de canhões para defender a esquedra, as caravelas mesmo eram mais simples ainda.

Mas ainda tinha mais, o Pavilhão Português, onde uma instalação audiovisual mostrava os nomes e fatos relevantes do descobrimento. Esse mural de azulejos é réplica de um existente em Portugal na Torre de Belém.

Réplicas ampliadas de cartas de marear
Esta carta foi escrita antes do descobrimento do Brasil, por Duarte Pacheco aqui ele relata o descobrimento de terras a oeste da linha do Tratado de Tordesilhas, acredita-se que ele chegou ao continente na altura do Maranhão e chegou até a Ilha de Marajó. Seus relatos encorajaram a Coroa Portuguesa a armar uma grande esquadra com o objeitvo de "tomar posse" da nova terra antes que outros a fizessem.



Um relógio de sol.

Pedro Álvares Cabral, e seu brasão d'armas, consta que a família dele criava cabras, daí o nome Cabral.






Arraial D'ajuda


Depois de passearmos na história, fomos passear de barquinho, e levamos herbie junto, na balsa que vai para Arraial e Trancoso


Casario muito bem conservado na beira do cais, uma característica da cidade, tudo muito bem cuidado e limpo.


Chegando para pagar a passagem, R$11,00 de segunda a sexta e R$ 13,70 sabados e domingos, e R$3,00 por pessoa.




A balsa começando a manobrar, o piloto era um artistas performático na arte de pilotar barco, só vendo, gravei só a metade do rolo que foi ele virar o rebocador pro lado certo pra gente conseguir sair do lugar.




Chegando no cais, descobri que o momento da atracação é o mais perigoso, recentemente um artista que manobra o rebocador que puxa a balsa conseguiu virar o barco quando estava chegando para atracar, só não levou a balsa junto porque os funcionários foram rápidos e soltaram os cabos, como já estava junto à rampa não afundou muito, se eu soubesse que corria esse risco juro que não tinha subido a bordo dessa coisa.
A saída da balsa é uma mistura de abertura da arena da corrida de touros de Panplona com uma largada em Mônaco, um monte de carro querendo sair rápido da balsa com um bando de gente aparvalhada atravesando o caminho.






O Centro de Arraial parece uma cidadezinha de brinquedo, é o que devia ser Porto Seguro 40 anos atrás, tranquila, mesmo com a turistada tava lá na dela, a verdade é que o nível do turismo aqui é mais alto, tem muita pousada sofisticada, mas também se vê muito mochileiro bicho-grilo pelas ruas, aliás, Trancoso é até perto dali, mas não dava pra ir no mesmo dia.


Conseguir vaga no entorno da praça não é fácil tive que esperar um bando de turistas nuns bugues alugados sairem pra conseguir estacionar aí.



Examinando o mapa pra tentar convencer a Deize que dava pra ir até Trancoso, vendo as distâncias me desanimei, já eram umas 4 da tarde.


A igreja pequenina de costas para o mar.


Mais um Cristo abraçando a praça vazia

Essa é a vista que se tem do mirante que fica atrás da igreja

Essa fonte tem uma história muito legal, quando foi fundado o vilarejo não tinha como se abastecer de água, conta a lenda que o padre rezou para N Sra da Ajuda, padroeira, para que ajudasse a encontrar um manancial de água e essa fonte surgiu embaixo do barranco onde foi erigida a igreja, coincidência ou não ela está lá até hoje minando água (só não sei se é potável)

A construção é data da década de 30.

Chega-se lá por esta escada, fica bem no centro histórico, não tem erro, vale a pena dar uma olhada, nas casas ao longo da escadaria moram uns remanescentes dos hippies dos anos 70 que ainda persistem por ali, acho que a maioria já se mandou pra Trancoso faz tempo.

Pegamos o carro em direção às praias, no caminho passamos pela famosa Rua Mucugê, uma espécia de Ruas das Pedras de Búzios versão baiana, segundo dizem é aqui que a noite ferve, mas não é pra qualquer um não, pela cara dos lugares é do tipo que cobra 6 reais por um café expresso, não parei nem pra tirar foto, fui andando. O que eu queria era praia.

Pra onde você ia ficava entre muros, só se via entrada para praia através de barraca, não tinha uma nesga de areia aberta. Tudo totalmente loteado.


Acabou a estrada, estreita e entre muros altos, nesse portão, daí não tinha mais caminho, tivemos que voltar


Pra onde você pensava em ir ou a estrada acabava em nada ou em muros, lugar estranhíssimo, ninguém em lugar nenhum. Chegamos em um cruzamento onde portões imensos e muito antigos fechavam as laterais das esquinas, era como se ninguém viesse ali a anos, deu um arrepio na gente, caímos fora.

Voltamos para a balsa, muito chateados, afinal de contas, o povoado é até bonito, mas todo aquele loteamento de praia doeu, aí lembramos o porque das pessoas deixarem o nordeste pra irem pro sul, para não terem de viver vendo essa desigualdade tão grande, ao mesmo tempo que o nordeste nos delicia com belas paisagens e um povo muito bacana ele também mostra essa faceta cruel do dinheiro que compra tudo e alija o povo mais humilde.





Observem aos 40 segundos do filme, o profissionalismo da empresa. Se eles fazem um cartaz assim imagine como cuidam das embarcações.


Deize narrando a nossa volta, eu sentado no capô do carro, p... dentro da roupa por não ter visto uma única praia, totalmente mode sarcástico mode on.




Acabamos o final da noite fazendo algo legal, pena que não registrei em fotos, no dia anterior, quando paramos o Herbie pra ir atrás dos acarajés, deixamos ele em frente a uma doceria, de doces portugueses! Imagina a vontade de voltar lá. Resolvemos aplacar nossa chateação com uma boa xícara de expresso com uns docinhos, pastéis de belém no caso, de um lado ficava a cafeteria, e do outro a fábrica, com uma vitrine onde se acompanhava todo o processo de fabricação.

O dono da loja é o mesmo dono da Casa Cavê aqui no Rio, e o garçon que nos atendeu, gentilíssimo, um pernambucano legítimo importado do Rio de Janeiro, onde trabalhava, levado para a nova filial, quando ele soube que nós viemos do Rio, e de Fusca, ficou encantado, disse que morria de saudade de lá, gente fina o garoto. Levamos uma caixinha com seis pastéizinhos, ainda bem que tem filial aqui no Rio pra quando bater a saudade.

Ah, sim, o momento ferrugem do passeio, achei essa Kombi, inteirona, considerando o uso (abuso) que o pessoal de lá faz com os carros de serviço e o nível de destruição que a salinidade do ar provoca na lataria ela estava até inteira.
Era de um alemão, há tempos radicado no Brasil, tanto que nem tinha mais sotaque, comprou no interior de Goiás, trouxe-a a rodando, o que acabou estourando o motor, trocou por um novo, mas estava preocupado pois a maresia estava comaçendo o seu ataque na chapa, estava na dúvida se vendia ou levava ela pro interior, longe da maresia. Enquanto isso um sujeito lavava o interior do carro com uma vassoura e baldes e mais baldes de água, assim não tem lataria que resista mesmo.


Se pudesse, e tivesse duas bundas, teria levado ela pra casa, ia virar um belo motor-home, apesar da ciumeira do herbie que se recusou a pegar do lado dela, só funcionou depois de umas três tentativas..


E assim fechamos mais um dia, mas e agora? Voltar pra casa? Apertar o botão e ir até onde o dinheiro e o tempo desse? Resposta no próximo post.

Um comentário:

  1. Muito interessante aquela visita à Nau.
    A travessia da baia de Guaratuba aqui no litoral do Paraná, é muito parecida com essa que vocês fizeram. O preço lá é um só R$ 5,10 ida e mais 5,10 volta e dura em torno de 15 minutos.

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