quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dia 4 - Rumo norte

Depois do dia de rei, o dia de peão, ou seja, pegar a estrada subindo o litoral, o rumo? Caravelas.

Quem já ouvi a música Ponta de Areia cantada por Milton Nascimento? Não imagina que o lugar exista realmente não é? Antes do estado do Espírito Santo ser criado, Minas Gerais tinha mar, e a linha férrea que chegava até ele terminava nesse lugar, no extremo sul da Bahia.

Saímos de Piuma via Anchieta e tomamos uma estrada até a BR-101, fazendo o caminho inverso do dia anterior, isso nos tirou do trânsito do litoral, bastante intenso em direção às praias, o objetivo era contornar Vila Velha e Vitória e tomar rumo norte.



A BR-101 é estreita, e nesse trecho tem bastante curva, o que se torna cansativo, na maior parte do tempo ficávamos vendo a traseira de algum caminhão.

O anel viário de Vitória está um horror, mal sinalizado, com o asfalto em péssimo estado, se nós não tivéssemos passado por lá antes e mapeado a saída era capaz de termos entrado por Vila Velha adentro achando que estávamos an BR-101, mas isso não deve demorar muito tempo pois estão fazendo obras nessa região.

Como estávamos "amaciando" a bateria da camera, e mesma dava sinais de exaustão, tiamos mais fotos de celular, guardando para fotografar a placa da divisa com a camera "boa", e sem filminhos, sorry.



Aqui passamos por uma verdadeira trincheira, obras dos dos lados, e não dá pra ver na foto, um imenso buraco cavado pra passar as manilhas de águas pluviais.


Aqui a via já se apresenta com sua feição final, duas pistas em casa sentido com mureta no meio e perigosos retornos não sinalizados, mas muito melhor que antes.

Morros na paisagem


E estranhas pontes inacabadas, ou semi-derrubadas, essa parece ser uma ponte ferroviária, faltava um pedaço dela que não aparece na foto.

Adeus Vitória

Passando por Serra, onde retomamos a BR-101, no trecho em que ela contorna Vitória ela é ES-060

E começam a aparecer as plantações de eucalitpto


Uma parada estratégica perto de João Neiva, tinha wireless também, boa opção de parada, o posto chama-se Casa Brasil, muito limpo e organizado, com uns pastéis bem bacanas, deu uma forrada pra gente seguir a viagem tranquilo.

Na medida que íamos subindo as plantações de eucalipto iam se multiplicando, perdi a foto do último jacarandá da bahia, solitário, na beira da estrada, protegido por um guard-rail, testemunha isolada do que foi aquela região décadas atrás antes de chegarem as empresas de celulose e os criadores de gado.

Junto com as plantações, apareciam eles, os caminhões de carregar madeira, bitrens desconjuntados, com mais de 20 metros de comprimento, largando pedaços da carga na pista, os donos da estrada se arrastando a 60/70 por hora, atrasando sobremaneira a viagem, e a BR-101 é estreita, não adianta forçar a passagem porque em muitos trechos inclusive o acostamento não existe, mal cabia a metade do Fusca, estão esqueça qualquer possibilidade do caminhão ao menos dar uma encostada e abrir uma brecha pra você passar, tem que ficar cozinhando (literalmente) atrás dele até aparecer alguma (rara) 3ª faixa ou então que ele saia da estrada.

Às vezes era mais de um, quando passávamos por alguma cidadezinha com quebra-molas eles atrasavam todo mundo, olha a fila de caminhões presos atrás deles.

Cruzamos com outra ponte inacabada, do mesmo feitio da anterior

Desvios em frente aos postos da PRF, raramente vimos algum bloqueio policial, aliás a maioria desses postos parecia abandonado.

Em Linhares, quase na divisa, uma surpresa um restaurador de carros antigos perdido naquele sertão, gostei da Chevrolet Brasil, ainda vou ter uma.

Um caminhão Puma perdido na esquina da avenida principal.

E chegamos ao território baiano, nenhuma placa de boas vindas apenas um anuncio na beira da estrada indicava que estávamos mudando de estado, e de horário também, ganhamos uma hora por causa do horário de verão do nordeste, o que não resolveu muito porque estava um sol de lascar e os eucalitpos não ajudam em nada, pelo contrário, parecia que estávamos andando no deserto de tão seco que estava o ar. Bebemos todo o estoque de água do carro.


Lá embaixo não era uma miragem, era um velho ônibus da Amigos Unidos daqui do Rio de Janeiro, revendido para alguma empresa do sertão baiano.


Mais eucaliptos, a praga do sul da Bahia, só comparável à pecuária que se aproveita da rotação de plantio para pasto, ou seja, nenhuma chance da flora nativa se recompor.

Nesse trecho a estrada tem um relevo acidentado, passando por pequenas serras e vales profundos, na foto estamos atravessando por uma reserva de mata nativa, aí se pode ver a força da vegetação da mata atlântica, mesmo mantendo uma linha reta a estrada sobe e desce o tempo todo, forçando o motor, como era final de tarde e já vinha dirigindo a horas tinha medo do motor superaquecer, ainda bem que ele estava andando com um litro a mais de óleo pra garantir a refrigeração.

Nas descidas mantinha o carro engrenado em quarta marcha com ligeira aceleração, o segredo do Fusca não é "banguelar" o carro. Ele refrigera pela ventoinha do motor, esfriando o óleo, , jogá-lo em marcha-lenta em alta velocidade cria uma "bolha" de ar superaquecido embaixo do capô que pode fundir o motor em pouco quilometros.


Pelo menos nos livramos da maioria dos caminhões madereiros, estavam todos em fila entrando pra esse lugar, devia ser onde eles processavam a madeira pra ser levada sabe-se lá Deus pra onde.

Lá pelas cinco da tarde conseguimos pegar a entrada para Caravelas, que é a mesma estrada que vai para Prado e Alcobaça.

Pelo menos os eucaliptos serviam pra fazer sombra, quinze anos atrás tudo isso era mata nativa a perder de vista.

Chegando na rotatória, em frente Alcobaça, à direita Caravelas e à esquerda Prado, passaríamos os próximos dias indo pra lá e pra cá nesse trevo.

Chegando na entrada de Caravelas, isso era pra ser uma esfera armilar com o escudo da Coroa Portuguesa, o abandono do portal da cidade era apenas o primeiro de muitos choques que eu teria ao visitá-la.

O abandono era visível, muitas pousadas fechadas, inclusive a que tínhamos visto no Guia 4 Rodas, eu lembrava que em 96 quando estivera lá a região era muito procurada por mergulhadores e turistas que queriam avistar as baleias em Abrolhos e no parcel de Paredes, aliás, a cidade era conhecida justamente por isso, o guia, de 2007 mostrava que os hotéis funcionavam, mas a realidade era bem outra, até a marina que funcionava na cidade estava fechada e abandonada.

A última foto foi do único lugar que me pareceu mais bem conservado, o distrito de Ponta de Areia, o mesmo lugar da música de Milton Nascimento, aqui ficava a última estação antes do porto, esse memorial foi construído por um dos descendentes dos ferroviários que trabalharam por décadas na região.

Rumamos para Alcobaça 20km ao norte, que parecia ter uma infra-estrutura hoteleira melhor a julgar pelos anúncios ao longo da estrada até o trevo principal, chegamos lá no início da noite mas conseguimos um bom hotel e muito bem localizado perto da praia. como ainda era cedo resolvemos dar uma caminhada até porque eu saí do carro completamente mareado, tipo, não conseguia apoiar o pé no chão, andamos até o farol, que fica na beira da praia, no meio da avenida, onde fomos a um trailer chamado "Pimenta de Cheiro" , o único local da cidade que servia chopp, e incrível, não tocava música baiana, ele estava tocando a globo FM do Rio, via web, um verdadeiro milagre. Comemos um caldo muito bom, seguido de um peixe maravilhoso, e com a alma leve de ver aquela praia imensa, ali, na quietudade, dava até pra ouvir ao fundo essa música:





No próximo post: a verdadeira história por trás do abandono de Caravelas, a cidade que era o porto de entrada de Abrolhos e hoje é uma cidade-fantasma.

2 comentários:

  1. O interessante desse clip é que ele parece ter sido gravado na antiga estação de Guia de Pacobaíba, em Magé, na Praia da Mauá, outra "Ponta de Areia" das estações ferroviárias brasileiras (aliás, Herbie já esteve lá também...rs)

    Sobre Guia de Pacobaíba: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_petropolis/guia.htm

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  2. Notei pelas fotos que vocês tiveram um tempo maravilhoso com sol, na viagem.

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